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Mostrando postagens de fevereiro, 2016

Perdeu-se o tempo...

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Perdeu-se o tempo da delicadeza...   O tempo da união, da força, da luta... Da amizade. Não estou gostando nada desse enredo.   Frases jogadas, prontas, propositais e (re) pensadas. Perdeu-se o tempo da inocência... Um jogo de cartas marcadas. Lamento não ter aprendido xadrez. Talvez isso me tornasse mais forte. Ninguém pode ser tão competente o tempo todo. Cansei de cair em armadilhas. Tenho tantos defeitos insuportáveis.  Mas me orgulho de algumas qualidades.  Sou fiel.  Fiel aos amigos, aos princípios que aprendi naquelas imbecis e importantes comunidades de jovens. Perdeu-se o tempo da clareza... O erro é sempre do outro.  O poder tomou conta de tantos espaços, que não há volta. Nunca pensei muito em me policiar com as palavras. Hoje começo a entender que transparência só é bonita na roupa sensual.  Me questiono. Nunca lutei por cargos e nem tentei mostrar competência. Acreditei que fazia meu trabalho com ética e dignidade e pensava na promoção

RENATA AGONDI

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  Hoje senti uma grande saudade dessa minha amiga querida, que nos deixou tão cedo.  Pensei em escrever...Pensei em falar da moça bonita de fita no cabelo, pensei em traduzir sua doce voz, pensei em longas conversas e poucas palavras...  Mexi em guardados e resolvi (re)publicar alguns textos que fiz em sua homenagem.                     Conheci Renata Agondi na primeira semana de aula do ano letivo de 1981. Roupa em tons de azul, fita emoldurando seus cabelos, um largo e tímido sorriso delineava o semblante da menina que chegara para cursar a Faculdade de Comunicação da Universidade Católica de Santos.          Eu estava no segundo ano do curso e como nunca acreditei, e não acredito, em “trote” recebi Renata como uma nova colega e me preocupei em ambientá-la na escola.          Estávamos em sintonia. Lembro que em pouquíssimo tempo nos tornamos amigas. Nossa primeira conversa foi regida pelos astros. Renata, estudiosa de astrologia adivinhou meu signo - Leão- e depois de

Liberdade

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                A jovem universitária, repleta de sonhos, me olha, com um misto de inveja e admiração e diz: “Ah! Eu queria ser uma mulher moderna e livre, igual a você”.             E continuou falando sem ponto final: “você faz o que quer, vai para onde desejar e não dá satisfação pra ninguém...”.             Depois do choque, fiquei olhando para o nada e pensando nos sonhos dessa garota. Isso é ser uma mulher moderna? É liberdade? E o preço? E a dor de virar a chave da porta e não ter ninguém para te ouvir? De assistir um filme maravilhoso e ninguém para compartilhar?             Sim! Sou eu quem decide se lavo, ou não, a louça antes de dormir. Se, vou ficar em casa no sábado à noite, com um velho moletom, assistindo Dança Comigo.   Esperando encontrar o personagem John Clark com uma rosa vermelha na mão ou passear no shopping e comprar uma roupa nova e vivenciar sua solidão.             Posso fazer planos que só dependem de mim. O tempo é o meu. Decisões... P

Eleva dor

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                   Tenho de subir! Vou encontrá-lo depois de tanto tempo. Esse elevador desce na calma que não possuo. Mas preciso aguardar.             Vou entrar na sala com um olhar prepotente e vitorioso. Não, é melhor não. Serei sutil, usarei um tom distante. Qual a fórmula ideal para convencê-lo do meu amor? Falarei doce e mansamente, como uma princesa saída dos romances infantis.             Como demora a descer. O que estou fazendo aqui? Tenho que desistir. Chega de humilhação. Será que ele vai me maltratar e dizer mais uma vez “me esqueça”? É, pode ser... Tenho que ser firme, não devo chorar.             Eu poderia acender um cigarro, ele oferece uma falsa coragem. Mas do que adianta, logo terei que apagar. Estou tensa e não consigo organizar o meu pensamento. Seria hoje o melhor momento para conversarmos?             Olho a escada... Poderia seguir esse caminho. Assim demoro mais e tento ordenar os fatos. Nessa caminhada longa eu tenho mais chances. Porém, v

Re(A)cordar

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               Era uma casa simples, um terraço, dois quartos, uma sala  ampla, uma cozinha e um banheiro grande. Nos fundos tinha um quintal bonito, com uma figueira que dava frutos brancos, portugueses. Na lateral uma parreira carregada de uvas rosadas e pretas, que se confundiam com as flores brancas, bem miúdas, do sabugueiro, que enfeitava a paisagem e cobria quase todo o terraço.           No jardim muitas plantas, flores e uma árvore central onde eu colocava um cabo de vassoura, com um microfone de latinha de massa de tomates, que eu usava para cantar, apresentar meus programas favoritos e imitar o Ronald Golias.          Meu avô Antônio estava sempre muito bem vestido, usava gravata e calça social com suspensórios. A tarde, sentava-se em sua cadeira grande, feita de vime, e contava suas fantásticas histórias.          Eu ficava bem pertinho dele, escutando com atenção frase por frase. Ele parecia um contador de fábulas dos filmes infantis.           Sendo  a moleca d

Compartilhar/ Curtir

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              Os mais diferentes comentários, frases, dores, amores, piadas... Tudo passou a ter o acompanhamento das palavras compartilhar e/ou curtir. Parece que nada mais acontece se as duas ‘irmãs’ não estiverem presentes. Penso e repenso.             Compartilhar, no dicionário, significa tomar parte, participar com alguém. Dar algo seu ou mesmo se dar. Também pode ser dividir sem reservas, sem egoísmo.             Curtir. Logo me vem na lembrança o movimento hippie, “paz e amor”. Curtir uma festa, um bom momento, um baile de garagem. Mas, curtir também é uma dor latente, sofrer, calejar... padecer.             A rapidez dos novos tempos nos faz compartilhar e curtir a todo o momento.             Está cada vez mais distante o compartilhar de um café com um amigo e contar e ouvir histórias. Vivenciar alegria do outro, ficar horas no telefone ouvindo e partilhando novidades de antigas paixões.             Por vezes curto instantes mágicos do nascer do sol, da chuva e

Real(idade)

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            Depois de mais ou menos uns 35 minutos chegou o ônibus abarrotado. As pessoas se comprimiam para conseguir entrar. O serviço... O relógio de ponto... A consulta... A aula... O compromisso... É preciso entrar. Não, não é preciso, é necessário. Fico de lado, deixo que todos passem, não tenho pressa. Quem me espera não se apressa, mesmo ansioso, sabe que vou chegar. Aquela massa humana invade o coletivo e nessa hora o importante é entrar. Conseguir um lugar para ao menos colocar os pés. Mesmo esmagados, hão de chegar...  O serviço... O relógio de ponto... A consulta... A aula... O compromisso... É preciso entrar. Não, não é preciso, é necessário. Um minuto depois surge outro ônibus, inteiramente vazio. Entro, sento no terceiro banco, do lado esquerdo, na janelinha. Atrás de mim, um jovem com material de arquitetura. O um garoto faz um batuque irritante com uma moedinha de dez centavos. Mais um ponto. Entram três adolescentes rindo, rindo muito, entusiasmadas com

Sinto saudades

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            Gosto da agilidade e da certeza da comunicação rápida das novas mídias. Gosto de saber que na hora em que envio o recado aqui.... Ele já vai tremular ali.             Mas  e daí???             Talvez minha formação ainda seja da lauda dobrada pelo meio, no sentido vertical, e as frases  escritas quase como um código incompreensível. Lembro dos meus dias de estudante universitária, grandes mestres...              Roldão Mendes Rosa, que sabia  poetizar.              Ouhydes Fonseca com seu jeito calmo, ético e que ajudava a caminhar.              E o que dizer do meu eterno paraninfo, Eron Brum, que me despertou a vontade de saber, de pesquisar e de ser.             Queria agora saborear novamente as palavras do Gilio Giacomozzi e me embrenhar nas hipóteses tão certeiras do Ibere Sirna. Estar novamente com o Ciro Marcondes,  José Carlos Sanfelicci, João Batista  e o Carlos Eduardo Lins e Silva. Devanear.  Sentir que aquela estrela  era a mai

Feli(z)Cidade

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     Se a televisão brinca com o imaginário coletivo.    Se os paradigmas da existência lutam contra o poder vigente, para ela, nada importava.     As teorias da indústria cultural e cultura de massa, tantas vezes debatidas na universidade, tornaram-se banais. Afinal, queria ser feliz. E, por 30 anos desejava participar daquele espetáculo majestoso.   Lutando por uma sociedade igualitária, embarcou na loucura de passar horas dentro de um ônibus, onde pessoas totalmente desconhecidas tinham a esperança como algo a ser dividido.      Durante todo o percurso parecia anestesiada e sabia que só recuperaria os sentidos no domingo, 18 horas. Nem a paisagem da Cidade Maravilhosa desviava a sua atenção. Ao chegar ao palco de seus desejos, subiu confiante a arquibancada como se galgasse os degraus de um palácio quimérico. Seus olhos brilhavam tanto que podiam, sozinhos, iluminar todo o ambiente.              E aí começaram a desfilar as personagens tantas vezes cantadas.

Eu disse adeus...

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  As histórias de uma vida inteira foram passando pelos meus olhos. Rapidamente eram retirados objetos acumulados, jornais rasgados e segredos desvendados. Por muitos anos, as coisas que foram importantes não só perderam o valor, como deixaram de existir.   Pensei em pintar um quadro, para retratar o momento...                    Não tenho esse talento. Pensei em compor uma canção...                   Não encontro o tom. Pensei em escrever um livro...                   Me falta tempo. Trapos e textos estão espalhados por todos os cantos. A parede amarelada denuncia muitas noites de insônia. E me resta agora, a tentativa de renascer dessa amarga solidão.

Poetizar

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Se poetizo           e existo Logo,           só poetarei o amor. De Camões A Drumond Poetizar é preciso. Sou Pessoa Acreditando em Pessoa Por resistir        atingir        conseguir De Castro Fico  com o Adeus de Tereza Parto para o Exílio ou me junto ao Bandeira e da mesma maneira fico amigo do rei. Vinicius diz do que vivo mesmo sendo eu Poeta  Aprendiz. Mas... Machado  me (ins)pira No vôo da borboleta azul. Se Caetano é concreto                    e esperto dou uma de Odara e    corro para o sul. Parto para a luta    não reprimo    não desanimo Imputo  nos meus versos a certeza:    Ser poeta é ofício    De quem se deixa acontecer Poeti(ficar) é preciso                               ...  até morrer .         

Reclamação

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     Começou como a maioria das histórias de amor. Após muitos olhares profundos e frases de cumplicidade, nos encontramos. Era uma noite de inverno. A temperatura fria nos aproximou.      Primeiro o toque das mãos, que freneticamente buscava o reconhecimento dos dedos, da pele... Depois, o abraço e roçar dos lábios. Assim, iniciava um namoro, que nasceu com o destino de ser o mais bonito de todos.      Lembro com saudade do frio de Parati. Fazíamos planos bebendo vinho à luz de velas. Cantamos juntos as mais lindas canções. E usando Tom Jobim, ele se declarou: “Minha bem amada quero fazer de um juramento uma canção. Eu prometo por toda minha vida ser somente seu e amar-te como nunca ninguém jamais amou...” Agasalhávamos o mundo com nossa paixão.      Na primavera nossa estúpida cara de felicidade era uma constante. Tudo um motivo para comemorar. De pizza de muçarella ao jantar no chinês, nossa vida passava a ser uma festa eterna. Caminhávamos pela praia afrontando e exib